segunda-feira, 17 de julho de 2017

UMA HISTÓRIA CURTINHA


Vou lhe contar uma pequena história. Dizem que hoje em dia ninguém tem mais tempo para ouvir histórias. Mas meu convívio com pessoas me diz que uma história curta quase todo mundo tem paciência de escutar. Então, ouça (está no livro TODA LUZ QUE NÃO PODEMOS VER, de Anthony Doerr (p. 30): “O duque de Lorraine louco por pedras preciosas comprou de um mercador, por uma grande soma, um lindo diamante tão grande quanto um ovo de pombo, azul como o céu e com um fulgor vermelho no centro. Mas foi avisado que a pedra trazia má sorte, pois fora feito para ficar no fundo do mar. Ele o adquiriu assim mesmo e mandou encravar no cabo de sua bengala. Em um mês a esposa adoeceu e morreu, um amigo
caiu do telhado e também se finou e seu único filho caiu do cavalo e quebrou o pescoço. Ele foi perdendo tudo mas não se desfazia do diamante. Um dia, contando seus sofrimentos para uma menina, ela lhe disse: Jogue o diamante no mar”.

Por dois mil anos pessoas ouvem esse mesmo conselho dado pelo Deus Filho (Mateus 18:9): “Se um dos teus olhos te faz pecar, arranca-o, e lança-o fora de ti, pois melhor é entrares na vida com um olho só, do que, tendo os dois, seres lançado no fogo do inferno”.

Acabou!  

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Era, como diz as gentes, passar.

Neste mundo pós-moderno não há lugar nem tempo para se ter luto, sofrer a perda pela morte. Na correria em que vivemos temem que parar a vida para meditar na morte de um ser querido pode causar uma depressão em quem entre em reflexão.
Já nas antigas tábuas sumérias a morte era representada pela cruz +. Explicando esse símbolo encontrei esse trecho do livro de Camilo Castelo Branco (p.171):
"A respiração era sossegada, mas quase inaudível. Daí a segundos, não vivia; mas aquele estado não podia ser morte. Era, como diz a gente das nossas aldeias, passar: vocábulo sublime que nos vem de algum superior espírito que o achou assim nas suas lucubrações sobre o mistério da imortalidade, e os latinos o perfilharam para o entesourarem depois os cristãos. Transite, passar, ir para além, diziam eles. Assim foi o evolar-se daquele grande espírito do monge. Passou. Além, a luz perpétua, a glorificação das inteligências salvadoras, o foco divino recebeu o raio luminoso que se apagara na Terra".

A cruz é isso, o travessão - o corte da vida pela morte, a coluna vertical I a vida aqui e além.

sábado, 6 de maio de 2017

CARTA ABERTA À SÉRGIO CABRAL

e todos homens ilustres que assaltaram o povo:
A Igreja, qualquer delas, ensina, e você ouviu esses conselhos desde pequeno:
"Filho meu, se pessoas perversas tentarem seduzir-te, não o permitas! Se te convidarem: Vem conosco, vamos assaltar e com certeza matar alguém, encontraremos todo tipo de coisas valiosos e encheremos as nossas casas, junta-te ao nosso bando; dividiremos em partes iguais o resultado de tudo....
Filho meu, não sigas pelo caminho desse tipo de gente! Afasta os teus pés, pois os pés deles se precipitam para o mal.
Não tome a vereda do ganancioso; a ambição pelo lucro ilícito conduz o insensato à vergonha" - Provérbios 1
Como é que você não aprendeu, não guardou esse conselho no coração?


domingo, 30 de abril de 2017

O VALOR DE SER LEITOR CONSTANTE

Tão distante quanto o sexto século de nossa era a leitura é incentivada. O império romano havia sido retalhado por povos do norte e do leste e a ignorância campeava na Europa, mas nos monastérios a frágil plantinha do saber era cuidada pelos monges.
O trabalho do professor José Amadeu Coelho Dias, OSB, diz: "Com efeito, foram fundados por S. Bento de Núrcia (480-547) e, na Igreja e no mundo Europeu, são apresentados como sinónimo de paciência; daí o provérbio, tantas vezes repetido, «Paciência de beneditino»! E porquê? Precisamente por causa da maneira aturada e paciente com que, nos «scriptoria» medievais dos seus mosteiros, transcreveram os escritos antigos e os transmitiram à posteridade. Com a invasão dos bárbaros que tudo destruíam, se não fosse o trabalho dos monges, ter-se-ia perdido o património cultural de gregos, romanos e dos Padres da Igreja Cristã. Está aí o mérito cultural dos monges, a sua ação educativa para o renascimento da Europa ocidental"

sexta-feira, 24 de março de 2017

Você tem um casco duro?

"Pois então vou contar uma história pra você. É sobre o lugar de onde vim, na África. O chefe do nosso povo ficava sentado numa cadeira grande feita com dentes de elefante. Um homem ficava segurando um guarda-sol sobre a cabeça dele. Ao lado ficava outro homem, era através dele que o chefe nos falava. Ele só falava através desse homem e o povo só podia falar com ele por esse homem. Mas o que quero te contar mesmo é de uma figura pintada no guarda-sol: uma mão segurando um ovo. Isso representava o cuidado que o chefe devia ter com seu povo" - Negras Raízes, de Alex Haley, p 251.

Um escravo africano contava de sua vida passada.
Como vivemos num tempo em que o dinheiro - sempre foi assim, mas agora se chegou ao limite - vale mais do que uma vida, os governantes sempre criam leis que protejam o capital e tornam a nossa vida mais difícil. Estamos numa ladeira em que essa bola de neve só vai ficar maior. Ah, o livro fala de outro detalhe.
"O rei segurava um bastão onde na cabeça estava esculpida uma tartaruga com uma abelha pousada no casco. Lembrava ao povo que a tartaruga não sente a picada da abelha porque tem um casco duro. Representava que para aguentarmos essa vida, temos de ter paciência e um casco duro".

terça-feira, 7 de março de 2017

Não adianta chorar.

Estou relendo NEGRAS RAÍZES, de Alex Haley.
Ainda no começo acompanho o crescimento de Kunta Kinte numa aldeia, na África. Chamou-me atenção a escola mantida pela própria aldeia: “Agora que estava com seis anos ele teria de cuidar das cabras de seu pai e ir a escola. Cada um levando orgulhosamente sua tábua de escrever, uma pena e um pedaço de bambu com tinta seguiram ansiosamente para o pátio. O mestre mandou que se sentassem e logo andou no meio deles dando golpes nos reta...rdatários com uma vara flexível. E disse: É preciso que me obedeçam com presteza, não é permitido nenhuma conversa a menos que eu lhes peça para falar e quem desobedecer será mandado imediatamente para a casa dos pais. Quem chegar atrasado também volta para casa. Sabem bem o que suas mães e pais vão fazer. Vocês não são mais crianças, agora têm responsabilidades e tem que as assumir”.

Esse tempo passou, não é possível mais se usar uma vara ou chinelo, quer na escola quer em casa. Mas a disciplina precisa continuar, em casa e na escola. Se não, vamos formar pessoas sem caráter. Vamos criar cobras para nos morder. E, então, não adianta chorar.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

A LINDA MULHER QUE PASSA

Muito, mas muito tempo mesmo, antes de Vinicius de Moraes cantar:
Olha que coisa mais linda
mais cheia de graça
é ela menina que vem
e que passa...

O poeta Baldelaire fez esses versos para uma parisiense:
A uma passante
A rua em derredor era um ruído incomum,
longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;
Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua.
Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala o frenesi que mata.
Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade,
E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei um dia e já na eternidade?
Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado demais! 
O filósofo Walter Benjamin assim o comenta:
O soneto apresenta a imagem de um choque.
Ela atingiu o âmago de seu sentimento e ele foi invadido por Eros em todos os recônditos do seu ser. Os versos mostram como a perplexidade pode acometer, como um frémito, o homem solitário.
E JESUS já havia avisado de como um encontro fortuito desses pode levar à muitos problemas:
Eu, porém, vos digo, que qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, em seu coração, já cometeu adultério com ela.
Livrai-me, SENHOR, da linda mulher que passa.